2.12.07

"Não existe verdadeira inteligência sem bondade." - Ludwig van Beethoven

20.11.07

Time - O Amor Contra a Passagem do Tempo


A obsessão com a beleza e a “perfeição” estética é um fenômeno mundial. Todos os dias, milhares de pessoas perfeitamente saudáveis se submetem a cirurgias em todo o planeta a fim de corrigirem aquilo que julgam desagradável em seus próprios corpos ou (o que é inaceitável) com o objetivo de aperfeiçoarem traços que já são naturalmente harmoniosos. Como todo procedimento cirúrgico é arriscado por natureza, inevitavelmente várias vidas são jogadas na lata de lixo, desperdiçando todo o potencial daquilo que poderia ser uma longa e produtiva existência em prol de um mero capricho: quantas lipoaspirações “corriqueiras” resultaram em coma e morte? E o mais espantoso é que até mesmo alguns membros de uma profissão destinada a salvar vidas têm contribuído para tornar este fenômeno ainda mais absurdo.
Escrito pelo próprio diretor, Kim Ki-duk, o filme acompanha o conturbado relacionamento entre o fotógrafo Ji-woo (Jung-woo) e a bela Seh-hee (Ji-Yeon): extremamente ciumenta, a garota inicia discussões em público com o namorado sempre que este parece prestar atenção em qualquer outra mulher – e sua insegurança chega ao ponto de levá-la a acreditar que o rapaz já enjoou de sua aparência. Assim, Seh-hee decide submeter-se a uma cirurgia a fim de ganhar um rosto novo, capaz de “esquentar” seu relacionamento: depois de desaparecer por seis meses (período de cicatrização exigido pela operação), ela ressurge na vida de Ji-woo como a garçonete See-hee (Hyeon-a), cujo novo nome é justamente uma aproximação fonética daquele que ela usava anteriormente. Sem saber que agora está envolvido com sua antiga namorada, o fotógrafo não consegue compreender o comportamento cada vez mais errático da moça – até que a situação se torna insuportavelmente complicada, resultando em conseqüências absurdas para ambos.
A princípio, "Time" parece estar fazendo uma simples condenação da banalização das cirurgias estéticas e da transformação da Medicina em mercado: apesar de alertar Seh-hee para a brutalidade da operação e aconselhá-la a desistir do procedimento, o médico abordado pela garota acaba aceitando a tarefa, embora seja claro que a moça é emocionalmente instável e que a cirurgia é completamente desnecessária.
A partir de conflitos como este, Kim Ki-duk leva o espectador a considerar aspectos filosóficos sobre a natureza de nossas identidades: afinal, até que ponto nossas “cascas” definem quem somos? É óbvio que ganhar um novo rosto não elimina a instabilidade psicológica e emocional de Seh (ou See)-hee, por mais que esta acredite ter assumido uma nova identidade (em todos os sentidos). Em contrapartida, para Ji-woo, See-hee e Seh-hee são duas mulheres completamente diferentes – e o que ele aceitava em uma torna-se insuportável na outra. E quando See-hee busca uma nova cirurgia, o que está querendo, na realidade, é uma nova identidade, uma fuga de si mesma – algo que não compreende ser impossível. Revelador, também, é constatar que a personagem, a partir de certo instante, procura identificar o amado através daquilo que ele tem de imutável: suas mãos – o que revela que, apesar de todas as alterações físicas experimentadas pelo casal, ela se sente confortável justamente quando encontra algo que lhe é familiar. Em outras palavras: ambos sacrificaram tudo o que tinham em nome de uma novidade que não queriam ou precisavam, exatamente como tantas pessoas fazem diariamente ao se deitarem em uma mesa de cirurgia.

15.11.07

"No fundo de cada alma há tesouros escondidos que somente o amor permite descobrir" - E. Rod

2.8.07

Entre as Colinas

Entre as colinas,
quando vos sentardes à sombra fresca
dos álamos brancos,
partilhando da paz e da serenidade dos campos
e dos prados distantes,
então que vosso coração diga em silêncio:
"Deus repousa na Razão".

E quando bramir a tempestade,
e o vento poderoso sacudir a floresta,
e o trovão e o relâmpago proclamarem
a majestade do céu,
então que vosso coração diga
com temor e respeito:
"Deus age na Paixão".

E já que sois um sopro na esfera de Deus
e uma folha na floresta de Deus,
também devereis
descansar na razão e agir na paixão.

Kalil Gibran

1.8.07

"Somos todos prisioneiros, mas alguns de nós estão em celas com janelas, e outros sem." - Khalil Gibran

28.7.07

Purgatório - A verdadeira história de Dante e Beatriz

A obra que ostensivamente sustenta o enredo deste romance de Mário Prata é, claro, a "Divina Comédia’’, de Dante Alighieri. Como lá, a musa do protagonista, uma antiga paixão da juventude, pretende guiar-lhe na trajetória do além-túmulo.
Como lá, igualmente, há um Virgílio, aqui um subalterno do bancário Dante. Ele acompanha o herói pelo inferno que, na ficção de Prata, também é sinônimo de nossa vida cotidiana. Em reforço biográfico ao pastiche, o Dante de Prata, como o Alighieri, também deixou de casar-se com Beatriz para contrair esponsais com uma dama chamada Gemma.
Essa aproximação ostensiva é, porém, no miúdo e no acirrado da análise, no máximo superficial. Enquanto o florentino procurou, em sua obra máxima, compendiar todo conhecimento, toda literatura, paixão e ideologia de sua época, o objetivo do paulista é bem menos pretensioso.
Prata pretende divertir. Escrita originalmente na forma de folhetim, sua ficção vale-se de todos os recursos para, digamos, fisgar o leitor: humor, escracho, suspense, ganchos, reviravoltas e paralelos espertos ou não.
No romance de Prata, o inferno é bem aqui. Virgílio não é o grande poeta que compôs a monumental "Eneida’’, mas um escritor frustrado que, nas horas vagas, se entretém com rapazolas. Ninguém parece destinado ao Paraíso, nem mesmo Beatriz, que fica mesmo no Purgatório - e, depois descobrimos, nem isso.
O livro é uma mescla de romance, humor e crítica na medida certa, escrita por quem é mestre nisso.

26.7.07

"Viver é desenhar sem borracha." - Millor Fernandes